Reportagem de VEJA mostrou que envolvimento de petista com doleiro rendia benefícios além do empréstimo de jatinho
Revista Veja!
O deputado André Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara, repetindo gesto dos mensaleiros presos (Sergio Lima/Folhapress)
Diante de dados que mostram como o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), articulava para ajudar o doleiro Alberto Youssef a obter sucesso em seus negócios, deputados da oposição cobram que o petista se afaste do cargo para que a Casa possa investigá-lo com isenção. Reportagem da edição de VEJA que chegou às bancas neste sábado mostra que o envolvimento de Vargas com o doleiro, preso em operação da Polícia Federal que desbaratou um esquema de lavagem de dinheiro, rendia benefícios além do empréstimo de um jatinho: o deputado prestava serviços a Youssef, encontrando oportunidades de negócio para o doleiro no governo federal. Vargas, inclusive, ajudou Youssef a obter um contrato de 150 milhões de reais com o Ministério da Saúde.
Em mensagens trocadas em setembro do ano passado e interceptadas pela PF, Youssef fez um apelo a Vargas: “Tô no limite. Preciso captar”. O vice-presidente da Câmara prontamente respondeu: “Vou atuar”. No mesmo dia, técnicos do Ministério da Saúde, então comandados por Alexandre Padilha, hoje candidato ao governo de São Paulo, foram destacados para certificar o laboratório farmacêutico Labogen Química Fina e Biotecnologia, de propriedade do doleiro. A ajuda foi materializada em um contrato inicial de 30 milhões de reais firmado com a pasta.
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Tais revelações desmentem a versão apresentada por Vargas na tribuna da Câmara. Na última quarta-feira, o petista negou ter se reunido no Ministério da Saúde para tratar do laboratório e afirmou que apenas “orientou” Youssef – como, diz ele, teria orientado qualquer sindicalista, empresário ou prefeito que o procurasse. Na ocasião, o afirmou ainda que foi um “equívoco” ter viajado em uma aeronave alugada pelo doleiro. O “presente” a Vargas custou 100.000 reais. “Agora não basta mais discurso, tem que ter um gesto. E esse gesto principal é de se licenciar do cargo para dar condições plenas de a Mesa Diretora avaliar com isenção essas denúncias que o colocam em uma situação muito difícil”, afirmou o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), referindo-se ao fato de que Vargas, por ser o vice-presidente da Câmara, integra a diretoria da Casa. “É óbvia essa relação promíscua e que o doleiro é operador de um dinheiro público desviado para o partido e para o deputado. O André Vargas é de confiança de Dilma e de Lula. Tomara que ele não siga essa cartilha do PT de dizer que não sabe de nada e que não cometeu nenhum crime. A primeira atitude que ele tem de tomar é se afastar da vice-presidência. Depois, renunciar”, completa o vice-líder do PSDB, deputado Nilson Leitão (MT).
Com as novas denúncias contra o petista, a oposição vai ampliar os argumentos para solicitar que a Câmara o investigue. Embora a Secretaria-Geral tenha rejeitado o pedido do PSOL para que a Corregedoria avaliasse o caso do jatinho, o partido planeja incluir as novas revelações no parecer para insistir no pedido de investigação. “Quero uma posição definitiva da Mesa. Justamente porque ele é vice-presidente a diretoria tem de se pronunciar formalmente. É um constrangimento, neste momento, dizer que não há nada”, afirmou o líder Ivan Valente (PSOL-SP).
Em uma segunda investida para que o caso seja apurado, o DEM e o PSDB vão acionar o Conselho de Ética no início da próxima semana. “Nós já tínhamos indicações claras de quebra de decoro com a viagem no jatinho. Agora, a situação assume uma nova dimensão e a gravidade das ocorrências vai ser incluída na representação”, disse o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA). “As versão foram sendo mudadas no curso das notícias e o deputado está em uma situação cada vez mais complicada”, continuou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).
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