Desafio no Maranhão
O governador do
Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) falou em entrevista à revista Carta Capital sobre
o desafio de governar o estado após mais de quatro décadas, com raríssimas e
curtas interrupções, de gestão da família Sarney e com o país atravessando um momento
econômico difícil e o governo federal, de quem o estado depende, fazendo cortes
profundos nos gastos públicos.
“Desesperador? Não
para Dino”, diz a Carta, para quem o governador analisou a crise nacional e os
desafios de governar a unidade da Federação mais pobre e pregou a reinvenção
das esquerdas.
“A situação
econômica nacional tem vários aspectos preocupantes. O primeiro é o fato de a
crise mundial ter afetado os preços das commodities. Caiu o preço do ferro, por
exemplo, e isso afeta bastante as exportações realizadas pela Vale por meio do
porto do Maranhão.
Por causa dos
problemas na Petrobras, perdemos a refinaria que seria construída no estado. E
há o temor de forte queda nos investimentos de programas federais, entre eles o
Minha Casa Minha Vida, vital por sua capacidade de gerar empregos. O
desenvolvimento regional não acontece por si só.
Depende do
crescimento nacional. Um alívio vem do agronegócio, que continua firme. Por
isso é fundamental uma agenda pós-ajuste. O acerto das contas não pode ser um
fim em si mesmo”, disse Dino.
O governador falou
sobre o fato da esquerda parecer ter perdido o debate econômico e social. “É
central que o governo recupere a governabilidade social, não apenas
institucional. E isso se faz com novas políticas, novos programas e ações
transformadoras, em especial na direção da distribuição de renda e da inclusão.
Mas não basta.
A esquerda precisa
se reorganizar. Há um claro desgaste do papel de liderança do PT. Não vou
entrar no mérito se isso acontece em razão das virtudes ou dos defeitos do
partido. A pergunta a ser feita é: o que se colocaria no lugar?
Imagino um
agrupamento semelhante à Frente Am-pla Uruguaia ou à Concertação Chilena. Um
rearranjo institucional baseado nos partidos existentes.
Eles não seriam dissolvidos,
mas transformados a partir de um novo programa capaz de reconectar o pensamento
progressista com o sentimento da maioria. É impossível qualquer força de
esquerda prosperar se ficar isolada da população”, disse Dino.
O comunista disse
ainda que não vê base legal para um impeachment da presidente Dilma. “Inexiste
base constitucional e jurídica para um impeachment”.
"Não estamos de braços cruzados", diz governador sobre
Pedrinhas
O governador Flávio
Dino falou ainda à Carta Capital sobre um dos mais graves problemas herdados na
sua gestão: a tensão no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Uma comitiva de
militantes de direitos humanos visitou, recentemente, a penitenciária e
constatou que as violações continuam.
"Assumimos há
seis meses. Apesar do pouco tempo, existe em vários setores um reconhecimento
das medidas tomadas para melhorar a situação. Discutimos com o Supremo Tribunal
Federal, o Ministério da Justiça, o Ministério Público e os Três Poderes do
Maranhão um redesenho do sistema penitenciário.
Entre agosto deste
ano e novembro de 2016, pretendemos entregar a reforma de unidades e alguns
presídios novos. Essas obras vão permitir mudanças nas condições carcerárias de
Pedrinhas.
Mas não estamos de
braços cruzados. Desde o início do mandato tomamos as providências para acabar
com as terceirizações nas penitenciárias. Neste momento, atuamos para
substituir 960 terceirizados pelo equivalente de funcionários
concursados", disse Dino.
O comunista ainda
respondeu sobre o fato de as entidades de direitos humanos citarem casos de
violência e intimidação em Pedrinhas. "Estamos à espera de que as
entidades apontem claramente os fatos. Minha determinação é clara: as más
condutas serão apuradas e punidas.
Temos uma reunião
marcada com representantes de organizações de direitos humanos para ouvir o
relato dos acontecimentos. Tivemos uma redução de 63% no número de mortos no
sistema. Não desvalorizo as quatro mortes ocorridas neste ano. São terríveis,
lamentáveis.
Mas antes eram 15,
20 mortes no mesmo período. Melhoramos a alimentação dos presos, humanizamos os
espaços, preparamos a reforma e a construção de áreas de trabalho. Tudo é, no
entanto, um processo.
Não tenho a
pretensão de em seis meses resolver todos os problemas daquele que já foi tido
como o pior sistema penitenciário do Brasil. É preciso ponderação, equilíbrio,
para apontar as coisas negativas e reconhecer avanços concretos", afirmou
Dino.
Fonte: Ananias Ribeiro
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