A busca da oposição por um escândalo capaz de abalar a hegemonia da presidenta Dilma Rousseff e do PT, rumo às eleições do ano que vem, ganhou neste domingo mais um capítulo. Embora não tenha repercutido como desejariam os artífices do que se aparenta mais com um factoide, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), tentou salvar o dia. Sampaio considera a entrevista do ex-secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., de “esclarecedora e estarrecedora”. O autor do livro Assassinato de reputações – Um crime de Estado responde a um inquérito por envolvimento com a máfia chinesa no Brasil.
Sampaio vai requerer, na próxima terça-feira, à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara a realização de audiência pública com a presença de Tuma Jr para esclarecer as graves denúncias feitas à revista Veja e que fazem parte de um livro que está sendo lançado.
– O ex-secretário Tuma Jr, que fez parte do alto escalão do Governo Lula por três anos, confirmou tudo aquilo que sempre denunciamos: a fábrica de dossiês petista, o até hoje obscuro assassinato político do prefeito Celso Daniel e a existência de uma conta no exterior para onde foram enviados os recursos do Mensalão, entre outras afirmações graves – disse Carlos Sampaio.
De caso com a máfia
A relação de Tuma Júnior com o chinês conhecido com Paulo Li foi mapeada ao longo dos seis meses da investigação que deu origem à Operação Wei Jin, deflagrada em setembro de 2009. Paulo Li foi preso com mais 13 pessoas, sob a acusação de comandar uma quadrilha especializada no contrabando de telefones celulares falsificados, importados ilegalmente da China.
Ao ser preso, Paulo Li telefonou para Tuma Júnior na frente dos agentes federais que cumpriam o mandado. Dias após a prisão, ao saber que seu nome poderia ter aparecido no inquérito, Tuma Júnior telefonou para a Superintendência da PF em São Paulo, onde corria a investigação, e pediu para ser ouvido. O depoimento foi tomado num sábado, para evitar exposição. Tuma declarou que não sabia de atividades ilegais de Li. O surgimento do nome Tuma Júnior no inquérito seguia em segredo até agora.
Processado
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, citado no livro de Tuma Jr., anunciou que pretende processar o ex-secretário Nacional de Justiça por “acusações falsas” contra ele. O delegado aposentado fala sobre o livro na edição desta semana da revista Veja, da Editora Abril, para a qual conta ter recebido ordens do governo do PT para fabricar dossiês contra adversários políticos.
Na entrevista concedida ao repórter Robson Bonin, Tuma conta que a morte do então prefeito de Santo André Celso Daniel “foi um crime de encomenda” e que, como “delegado da área onde o crime ocorreu”, à época, acabou ouvindo uma “confissão” do ministro Gilberto Carvalho sobre a prática de desvios da prefeitura do município do ABC Paulista para campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores.
– Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa fé, procurei a família dele (de Celso Daniel) para levar um conforto. Fui dizer a eles que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições”, teria dito Carvalho numa conversa com Tuma, que o teria procurado quando “estava sob fogo cruzado na imprensa” – disse.
“Repudio as acusações absolutamente falsas do senhor Romeu Tuma Júnior. Vou processá-lo imediatamente, para que ele responda na Justiça pelas calúnias que fez contra mim”, afirma Carvalho, em nota divulgada pela Secretaria-Geral da Presidência neste sábado 7. À Veja, Romeu Tuma Júnior dispara ainda contra outros petistas, como o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu.
Como funciona a mídia
Segundo o jornalista Paulo Nogueira, editor do site Diário do Centro do Mundo, “Li Kwong Kwen foi preso, em 2010. A Polícia Federal apurou que ele, conhecido como Paulo Li, era chefe de uma máfia chinesa que promovia contrabando de celulares falsificados procedentes da China. A quadrilha também intermediava vistos de permanência no Brasil para imigrantes chineses em situação irregular”.
“Gravações mostraram conversas comprometedoras de Li com o então secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma Jr. Nas conversas, Tuma Jr chegou a fazer encomendas a Li. Era uma relação tão próxima que, quando foi preso, Li telefonou para Tuma Jr na frente dos agentes da Polícia Federal”, diz Nogueira.
O livro do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior ainda nem foi lançado e já começa a movimentar Brasília a partir de amanhã, 09. A edição de "Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado", que deve chegar às livrarias esta semana, promete colocar o dedo em feridas ainda abertas no Partido dos Trabalhadores (PT), como o caso da morte do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, criação de dossiês e o Mensalão, entre outros. O PSDB promete convidar o autor para dar mais detalhes sobre as denúncias no Congresso.
"É importante aprofundar questão colocadas por Tuma Júnior no livro. Ele retirou do armário alguns esqueletos que ainda não foram totalmente retirados", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Denúncias como a confecção de "falsos" ou "esquentados" dossiês contra adversários políticos do governo, conforme o parlamentar, são mais conhecidas, mas é preciso ouvir diretamente do policial que fez parte do governo informações sobre Mensalão e o episódio de Santo André, citado por Dias como um "crime insolúvel".
O ideal, de acordo com o tucano, é que Tuminha, como é conhecido, faça um depoimento oficial na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. "É preciso ver se ele tem documentos que possam dar credibilidade às denúncias. Ele é um policial experiente, não faria isso (denunciar) sem ter algum material (que comprove as acusações)", considerou. Essa participação de Tuma Júnior no Congresso pode gerar como desdobramento a criação de inquéritos. "Ouvindo o Tuma oficialmente teremos subsídios para protocolar a denúncia na Procuradoria Geral da República (PGR) e instaurar inquéritos", disse.
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