A possibilidade de retirar as duas mamas após o diagnóstico de câncer é apresentada principalmente a mulheres com histórico familiar da doença ou com mutação genética que determina maior risco de o câncer vir a aparecer nas duas mamas. Apenas para esse pequeno grupo há evidências científicas de que a retirada dos dois seios prolonga a sobrevida livre da doença. Mas, de acordo com a pesquisa, 68,9% das mulheres que optam pelo procedimento não se enquadravam nesse perfil.
Pesquisas anteriores mostram que, ao redor do mundo, a ocorrência da chamada mastectomia profilática contralateral (MPC) – quando a mama não afetada pelo câncer também é retirada como forma de prevenir o surgimento da doença – tem aumentado, o que traz preocupações de que essa opção esteja sendo adotada de forma indiscriminada.
“As mulheres parecem estar usando a preocupação em relação à reincidência do câncer para optar pela mastectomia profilática contralateral. Isso não faz sentido porque ter um seio não afetado removido não vai reduzir o risco de reincidência no seio afetado”, diz a pesquisadora Sarah Hawley, professora da Escola de Medicina da Universidade de Michigan e uma das autoras da pesquisa.
O estudo avaliou 1.447 mulheres americanas diagnosticadas com câncer de mama, com idade média de 59 anos. Do total, 7,9% optaram pela retirada das duas mamas. Dentro desse grupo, 68,9% não tinham histórico familiar de câncer nem tiveram um exame genético positivo para a presença da mutação que determina um maior risco (BRCA1 e BRCA2).
Os autores do estudo destacam que a maior parte dessas pacientes nem chegou a fazer o exame genético. Mas algumas delas, mesmo tendo o resultado negativo para a mutação, optaram pela dupla mastectomia. De acordo com os resultados, o medo do reaparecimento da doença observado nas participantes foi um fator importante para a tomada dessa decisão.
“A taxa crescente da mastectomia profilática contralateral motivou alguns cirurgiões a questionar se realizar uma operação extensa que não é clinicamente indicada é justificável para reduzir o medo da reincidência da doença”, afirma o artigo.
Tendência x riscos
Segundo o cirurgião Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), realmente houve um aumento no número de cirurgias profiláticas da mama nos últimos anos.
De acordo com o médico, ao retirar uma mama saudável, a paciente está aumentando seus riscos de ocorrência de infecção e de necrose. Existe o risco, inclusive, de ter de retirar a prótese, caso haja complicações. Além disso, é possível que haja a perda de sensibilidade da mama, o que pode afetar a sexualidade. Ele lembra ainda que a retirada total da mama reduz em, no máximo, 90% os riscos do aparecimento do câncer. G1.com.br
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