segunda-feira, 16 de março de 2015

Vocalista do Raça Negra diz que letras românticas deram upgrade no samba







Romantismo ampliou o alcance do ritmo, que antes só falava 'meu barraco caiu', 'moro no morro', 'vida de bar'. Grupo se apresenta neste sábado em Contagem



Fonte. Imparcial


O paulistano Luiz Carlos da Silva, líder e criador do grupo Raça Negra, tem 58 anos, mais de 30 dedicados ao samba. Ele já lançou 37 discos. Foi diagramador de jornal, vendedor, até ver o sonho de ser cantor, cultivado desde os 17 anos, dar certo.

Mumuzinho é o apelido do carioca Márcio da Costa Batista, de 31, que está lançando seu terceiro disco, 'Fala meu nome aí'. Filho de pai motorista e cantor, formou-se em artes cênicas no grupo Nós do Morro e participou de alguns filmes. Frequentador dos pagodes do Rio de Janeiro, há quatro anos vem dando corda à carreira musical, levado por amigos como Dudu Nobre e com as bênçãos de Zeca Pagodinho.

No mesmo ano em que Mumuzinho nasceu, em 1983, Luiz Carlos da Silva estava começando as atividades do Raça Negra. O carioca, agora conhecido nacionalmente pela participação no programa Esquenta, de Regina Casé, a partir de maio cai na estrada, batalhando para se afirmar como cantor. Luiz Carlos da Silva, por sua vez, lança o projeto Gigantes do Samba, big band formada a partir de encontro de grandes nomes do gênero. A estreia ocorre hoje, em Contagem, onde o Raça Negra divide o palco com os mineiros do Só Pra Contrariar.

Portas abertas
“Minha satisfação é saber que levamos o samba a lugares onde ele nunca tinha chegado. Abrimos as portas das rádios FMs para o samba. Quando começamos, não era assim”, diz Luiz Carlos. Ele conta que o show que o Raça Negra fez no Canecão em 1995 foi o maior público que a casa carioca (já extinta) registrou. Outro orgulho do músico é empregar no samba teclado, metais, cordas e piano. “Fui muito criticado. Hoje, todos os que me criticaram fazem o mesmo. A época de samba só com pandeiro, cavaquinho e violão acabou”, afirma. Sem medo de voltar a ser criticado, diz: “Foi muito bom dar um upgrade no samba. É música boa, legítima cultura popular.”

Na origem do pagode romântico, do qual Luiz Carlos é um dos criadores, estão letras que traziam “o romantismo de Roberto Carlos” para o samba.”Fiz o que Tim Maia sugeriu. Ele dizia que o samba era perfeito, o único problema é que só falava ‘meu barraco caiu’, ‘moro no morro’,’ vida de bar’”, recorda. “E assim nasceu um gênero musical que criança, família, qualquer um pode ouvir e brincar”, diz.

Luiz Carlos cita composições de Cartola, Manacéia e Lupicínio Rodrigues para traçar a origem do romantismo no samba. Ele não gosta de tudo que ouve hoje em dia. “Em todo segmento tem gente de todo tipo. Temos grupos que não têm responsabilidade musical, assim como existe engenheiro que constrói prédio que cai.”

“Meu conselho para quem quer se dedicar à música é muito trabalho, porque não é uma carreira fácil. É 20% de talento e 80% de sorte. Depende de se colocar no momento certo, com a coisa certa. Então, tem que correr muito atrás.” Para se autodefinir, diz: “Não sou artista, sou trabalhador da música”.

O “trabalhador da música” identifica necessidade de renovação no cenário nacional. “Se a Alcione morre, quem fica no lugar dela? Se os Titãs acabam, que outro grupo de rock com o mesmo valor nós temos?”, indaga.

“A renovação, na minha opinião, não passa pela internet, que só usa o artista. Ela tem de vir pelo caminho normal, gravando um disco depois outro, chegando às rádios. É o rádio que faz e perpetua o artista de música. A pessoa não te vê, então, tem de prestar atenção ao que ouve. Vejo o pessoal da música na TV, mas para fazer o quê não sei. Televisão é para ator.”



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