domingo, 18 de maio de 2014

Brasileiro ferido por vergalhão é estudado por neurocientistas em NY Recuperação do brasileiro superou as expectativas médicas. Caso do Eduardo virou mistério até para neurocientista indicado ao Prêmio Nobel


Um brasileiro está sendo estudado por cientistas americanos. Ele teve a cabeça atravessada por um vergalhão e agora pode ajudar a ciência a desvendar mistérios do cérebro.

“Aconteceu há dois anos atrás, eu estava trabalhando”, conta Eduardo. 
 
O vergalhão entrou pelo alto da cabeça e atravessou a região entre os olhos, atingindo a área frontal do cérebro.
Eduardo estava agachado usando capacete quando foi atingido pelo vergalhão. A barra de ferro caiu de uma altura de 15 metros e tinha dois metros e meio de comprimento.

“Cortaram o ferro, diminuíram o tamanho e me levaram para o hospital. Em momento nenhum eu desmaiei, fiquei o tempo inteiro conversando”, conta.
E esse foi o primeiro espanto dos médicos, que se perguntavam: como é possível ele estar vivo?

Depois constataram que Eduardo tinha perdido boa parte da massa encefálica. Uma área responsável pelas funções associadas ao comportamento. E as expectativas na época, não eram nada boas.

“Ele pode vir a apresentar uma "liberação" do humor, ou seja, ficar mais engraçado do que ele era habitualmente, ele pode também ter alterações depressivas, ele pode ter uma dificuldade de planejar o seu futuro, de relacionamento com a família, com os amigos”, disse o médico Rui, em 2012.

A previsão era de que isso aconteceria em poucos meses. Mas hoje, dois anos depois:

Médico: Ele não teve nada?

O Eduardo, clinicamente, está absolutamente e surpreendentemente normal

Médico: Não teve nenhuma alteração de comportamento?

Nenhuma alteração de comportamento. Ele está absolutamente igual ao que ele sempre foi.
 
O caso do Eduardo virou um mistério para a medicina. E chamou a atenção dos cientistas americanos. O operário foi trazido para este centro de estudos em Nova York para ter seu cérebro pesquisa por uma das maiores autoridades médicas no assunto. A resposta que a ciência procura é: Como o Eduardo, mesmo depois de ter perdido 11 % do cérebro, continua tendo uma vida normal?

O neurologista Rodolfo lhinás, indicado ao prêmio Nobel de medicina em 2013, está surpreso. “Isso é inacreditável. Essa pessoa deveria ter sofrido muitas sequelas", destaca o neurologista.

Eduardo veio para Nova York com o médico que o atendeu, um professor e dois alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele conta que está afastado do trabalho recebendo R$ 1040 por mês. Mas que leva uma vida normal. A família até cresceu depois do acidente. Veio o terceiro filho.

As consequências até agora foram algumas convulsões, que estão sendo controladas por medicação e que os médicos consideram reações normais para qualquer pessoa que tenha tido uma lesão no cérebro.
Eduardo passou por vários exames em Nova York, o principal deles é o chamado magnetoencefalografia.

“Ele vê cada milímetro do cérebro, cada ponto da atividade elétrica”, explica.
“A gente vai ter uma explicação, exatamente do que aconteceu com o Eduardo e por que ele está tão bem. Como que o cérebro dele compensou esse trauma que ele teve”, explica Guilherme Rabello, neurocientista.  
O neurocirurgião Renato Rosenthal, conta um caso clássico da medicina. Em 1840, o operário americano Phineas Gage trabalhava na construção de uma ferrovia e sofreu um acidente semelhante ao de Eduardo.

No caso dele, a barra de ferro entrou de baixo para cima, mas também atingiu a região frontal do cérebro. Ele sobreviveu, mas mudou completamente de personalidade. Virou uma pessoa agressiva e seu caso passou a ser considerado como uma das primeiras evidências científicas de que uma lesão no lobo frontal do cérebro pode alterar a personalidade, as emoções e a interação social.

“Com certeza o caso do Eduardo vai ser estudado nas universidades e vai estar em todos os livros da mesma maneira que o caso do Phineas Gage é estudado no momento”, explica Renato Rosenthal.

“Se eles encontrarem a resposta, parabéns pra eles. Porque um cara que sofre um acidente desses, só tem que acreditar muito e crer que Deus existe e fez o milagre”, diz Eduardo.

Renata: O Eduardo ter sobrevivido é um mistério ainda para medicina?
Professor: Mais do que isso, eu diria que é um ponto de reflexão. O que nós acreditávamos que sabíamos sobre o cérebro, e como nós podemos, nesse caso específico, questionar os nossos conhecimentos e o que ainda falta ser desvendado.

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