quarta-feira, 9 de julho de 2014

MASSACRE - Nem as derrotas para Uruguai, em 1950, e Itália, na Copa de 82, foram tão cruéis



Humilhação sofrida pelo Brasil no Mineirão supera históricos 'Maracanazo' e 'Sarriá'

Nem as derrotas para Uruguai, em 1950, e Itália, na Copa de 82, foram tão cruéis


Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
O Brasil não se limitou a desperdiçar a chance de ser campeão mundial em casa. Fez pior. Apenas assistiu aos alemães jogarem futebol. Uma dolorosa surra no Mineirão. Müller, Klose, Toni Kroos, Khedira, Schürrle, Özil, Neuer... eles se divertiram em campo. A Alemanha fez 5 a 0 apenas no primeiro tempo e ampliou para 7 na etapa final. Isso mesmo, 7 a 0! Oscar diminuiu o vexame nos acréscimos, mas grande parte do Gigante da Pampulha permaneceu em silêncio. Pesadelo para quem compareceu ao Mineirão na esperança de uma classificação à decisão apesar da ausência de Neymar? Nada disso. É realidade. Terça-feira, 8 de julho de 2014: o dia que ficará na memória dos brasileiros pelos próximos 10, 30, 50, 100 anos.

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Que os vice-campeões de 1950 possam descansar em paz. O goleiro Barbosa, tão crucificado pelo gol sofrido do ponta-direita Alcides Ghiggia, conviveu com o gosto amargo da culpa por cinco décadas. “A pena máxima para um crime no Brasil é de 30 anos. Eu pago por aquele gol há 50”, costumava dizer. Falecido em 2000, aos 79 anos, ele não viveu tempo suficiente para assistir ao grande vexame de sempre. O “Maracanazo” diante do Uruguai, na decisão de 1950, e a “Tragédia do Sarriá”, frente aos italianos na segunda fase da Copa de 1982, foram superados pelo que aconteceu em Belo Horizonte entre a tarde e a noite deste 8 de julho.

Há ainda a decisão do terceiro lugar. No sábado, em Brasília, o Brasil enfrenta o perdedor de Argentina x Holanda. Uma vitória, porém, não amenizará o sofrimento carregado pelos jogadores. "Infelizmente, não conseguimos. Desculpa a todo o mundo, todos os brasileiros. Só queria ver meu povo sorrindo. Todos sabem quanto eu queria ver o Brasil inteiro feliz por causa do futebol", disse, em lágrimas, o zagueiro David Luiz. Neste Mundial, a Seleção Brasileira venceu três partidas, empatou duas e perdeu uma. Até aqui foram 11 gols marcados e 11 sofridos.

Dos campeões mundiais, apenas Brasil (5) e Espanha (1) não fizeram a festa em seus domínios. Presente nas 20 edições já disputadas, a Seleção Brasileira terá que juntar os cacos para reformular a geração de 2018. O novo projeto passa pelo jovem Neymar, de 22 anos, que chegará mais maduro à Rússia para tentar concretizar o hexacampeonato. Já os veteranos, como Júlio César, Fred e Daniel Alves, dificilmente voltarão a um Mundial.


"Maracanazo"

Antes da humilhação no Mineirão, o “Maracanazo” de 1950 era considerado o maior fracasso da história do futebol brasileiro. Ao mesmo tempo, configura-se como grande êxito da escola uruguaia. Ninguém esperava que os anfitriões pudessem deixar escapar pelos dedos a Copa do Mundo de 64 anos atrás. Melhor no quadrangular final, o Brasil jogava pelo empate a partida decisiva. Começou ganhando, com gol de Friaça, logo no início do segundo tempo. Contudo, Schiaffino e Ghiggia transformaram a festa no Maracanã em silêncio profundo. Quase 200 mil pessoas – cerca de 173 mil pagantes – acompanharam, de perto, a conquista mais importante do Uruguai.

Tragédia do Sarriá


A frustração vivida 32 anos depois, na Espanha, quando a Seleção Brasileira de Telê Santana encantou o mundo com um jogo ofensivo e altamente técnico, causou grande comoção no país. Mas uma das estrelas daquela geração – e que esteve com o grupo novamente em 86 -, o ex-jogador do Flamengo, Júnior, não aceita o termo tragédia.

“Para quem estava lá dentro de campo não houve decepção. Não tínhamos certeza que iríamos ganhar. Conquistei títulos importantes depois na minha vida. Foi uma campanha como qualquer outra. As pessoas continuam reverenciando a gente. Depois de 1950, ganhamos cinco vezes. Cada jogo é uma história. Não vejo 82 como tragédia e nem 86. Outras seleções já perderam Copas quando eram favoritas”, disse ao Superesportes.

Mesmo sem o aval de Júnior, o revés para a Itália ficou na história como “Tragédia do Sarriá”, nome do então estádio do Espanyol, da cidade de Barcelona. A equipe de Telê Santana sucumbiu perante o oportunismo de Paolo Rossi, que marcou os três gols da Azzurra e impediu que o Brasil, que jogava pelo empate, avançasse à fase decisiva da Copa. O título daquele ano terminou nas mãos dos próprios europeus. 

FIFA

Fantasma francês

Quem não se lembra de Zinedine Zidane e da final da Copa de 1998? É difícil algum brasileiro nascido antes dos anos 90 ter esquecido o camisa 10 da França, que decretou a derrota canarinho por 3 a 0 na final, no Stade de France. Oito anos depois, na Alemanha, ele voltou a ser protagonista de um capítulo triste da Seleção. Com uma exibição de gala, Zidane foi o dono da partida na vitória francesa por 1 a 0, pelas quartas de final. 

Mas o fantasma dos Bleus já havia aparecido em 1986, quando outro camisa 10, Michel Platini, era o craque adversário, e a Seleção caiu na disputa de pênaltis, também pelas quartas. Careca abriu o marcador, Platini deixou tudo igual ainda no primeiro tempo. Craque da equipe, Zico teve a grande aos 29 da etapa complementar, mas desperdiçou cobrança de pênalti. Bats defendeu. Nos pênaltis, a Seleção foi derrotada por 4 a 3 – Sócrates e Júlio César desperdiçaram suas cobranças.

Era Dunga

Capitão do tetra em 1994, a trajetória de Dunga na Seleção teve roteiro diferente quatro anos antes. O fracasso da equipe comandada por Sebastião Lazaroni na Copa da Itália ficou taxado como “Era Dunga”. A saída do Brasil naquela ocasião ocorreu diante do maior rival: a Argentina. Apesar de ter feito a sua melhor atuação, com direito a cinco bolas na trave de Goycochea, o Brasil parou na dupla Maradona e Caniggia. O camisa 10 arrancou e deixou o atacante em condição de driblar Taffarel e fazer o gol da eliminação brasileira nas oitavas: 1 a 0. Os ‘hermanos’ foram à final e perderam o título para a Alemanha.

Dunga aparentemente encerrou sua história na Seleção há quatro anos, como técnico na Copa de 2010, na África do Sul. O Brasil caiu por 2 a 1 diante da Holanda, nas quartas, com o famoso erro de Júlio César na falta cobrada por Sneijder. Atritos com a imprensa e a fama de “xerifão” foram duas marcas do comando de Dunga.

Outros fracassos

As eliminações também fizeram parte da vida do Brasil nos Mundiais de 1930, 1934, 1938, 1954, 1966, 1974 e 1978, mas não tiveram o mesmo desenho dramático de outros torneios. Na Copa da Argentina’1978, por exemplo, a Seleção deixou a competição de forma invicta, prejudicada por uma suposta armação de resultado com goleada dos donos da casa sobre o Peru.

Veja todas as eliminações brasileiras em Copas do Mundo
Arte: Soraia Piva

Soraia Piva/Superesportes

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